Universidade em foco - 12/05/2005 19:25
PRODUÇÃO
Apesar de descentralização, USP ainda é responsável por 25% da produção
científica nacional
Rafael Veríssimo / Agência USP
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) divulgou na última terça (10) o relatório Indicadores de Ciência,
Tecnologia e Inovação em São Paulo, documento que, entre outros dados,
revela a superioridade da participação de instituições de ensino superior
paulistas no total da produção científica do País. Ao longo dos últimos
anos, a USP, de acordo com o pró-reitor de Pesquisa Luis Nunes de Oliveira, foi
responsável por cerca de 25% dos artigos brasileiros publicados em revistas
internacionais indexadas, o que demonstra a sua grande relevância neste cenário.
Oliveira, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP,
ressalta que este crescimento foi alimentado fundamentalmente pela grande expansão
da pós-graduação no Brasil aliada à internacionalização da ciência
brasileira. “A partir da ida de pesquisadores brasileiros para centros de
excelência no exterior em busca de doutorado e pós-doutorado, foi possível
trazer para cá um grande número de experiências e conhecimento científico
que foram fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa no País”, afirma.
“O sistema de produção científica brasileiro já foi criado com essa referência
internacional, que tem como parâmetro de qualidade as publicações em revistas
internacionais”, explica o pró-reitor. “Por este motivo, a competição dos
pesquisadores brasileiros ocorre com países de primeira linha na produção
científica”, completa.
Em relação à expansão da pós-graduação, o professor ilustra que o setor
vem subindo, desde 1970, a níveis próximos a 15% ao ano. Outro dado por ele
fornecido trata do grande aumento no número de trabalhos divulgados: enquanto
no ano de 1990 o País teve 3,5 mil artigos publicados, em 2004 este número
saltou para 16 mil. Neste quadro, a USP, responsável por metade da pesquisa
produzida no Estado de São Paulo, quadruplicou a quantidade de artigos
publicados desde 1970, chegando hoje a um número próximo de quatro mil por
ano.
O documento divulgado pela Fapesp revela também que o crescimento de 54% na
produção científica brasileira, entre 1998 e 2002, se apoiou na descentralização
e na expansão da pós-graduação, principalmente em estados fora do Sudeste.
Em relação a este ponto, Oliveira destaca que, mesmo com uma maior formação
de mestres e doutores em outras regiões do Brasil, a USP manteve os 25% de
participação na produção de artigos. “Isso ocorre pelo fato de o
investimento estar centralizado em São Paulo. Estas universidades estão
formando cada vez mais doutores, mas sem os recursos necessários, a pesquisa não
se desenvolve”, defende.
Universidade e Empresas
O estudo da Fapesp indica também uma falta de interação entre o universo acadêmico
e o setor empresarial, além de ressaltar a idéia de que o desenvolvimento da
ciência brasileira está mais associado à produção de conhecimento sem inovações
tecnológicas. Segundo o relatório, no ano de 2000, a iniciativa privada foi
responsável por 54% do investimento em pesquisa e desenvolvimento no Estado.
Sobre esta falta de interação, o pró-reitor explica que a universidade é,
por excelência, um centro produtor de idéias e recursos humanos. “Na
universidade, o que se cria são novos conceitos, pois identificar e desenvolver
o objetivo, a aplicação desta ciência, não é fácil.”
Oliveira defende que, não necessariamente, esta integração deve ser
estimulada, mas que o principal ponto de aproveitamento da interação entre
universidades e empresas está no desenvolvimento pessoal dos estudantes. “É
importante que eles participem deste processo de inovação, pois é
principalmente nas empresas que os novos pesquisadores conseguirão adquirir
experiência prática”, afirma.
Exemplificando a integração de empresas com a USP, o pró-reitor cita a
recente criação da Agência USP de Inovação, que cria um canal de comunicação
entre a comunidade interna e externa à universidade em diversos setores, além
de parcerias como as da Faculdade de Medicina com a Microsoft, no
desenvolvimento da telemedicina, e da Siemens com a Escola Politécnica, na área
de telecomunicações.